Hoje estamos na terceira parte da História da Vodca. Boa leitura!
LEI SECA
"A vodca é uma bebida incolor que
pinta seu nariz de vermelho e enegrece sua reputação." A frase é de
Anton Tchekhov, um dos maiores autores russos de todos os tempos. Outro
gênio da literatura fazia coro à oposição pública de Tchekhov à bebida.
Filho de um alcoólatra, Fiódor Dostoievski escreveu que "o consumo de
bebidas alcoólicas brutaliza o homem e o transforma em um selvagem". O
outrora bêbado contumaz Leon Tolstoi escreveu sobre os malefícios do
álcool e criou, em 1887, a Liga Contra a Embriaguez. Com o apoio de
artistas desse porte, movimentos de temperança ganhavam força na
sociedade, especialmente após a morte de Alexandre II, em 1881. Seu
filho e sucessor, Alexandre III, não era tão liberal e não podia ignorar
a crise do alcoolismo. Ele sancionou novas leis, como uma de 1885 que
dizia que as tavernas só poderiam vender bebidas alcoólicas se também
servissem comida. Alexandre III morreu de pneumonia em 1894, e seu filho
Nicolau II deu passos mais largos rumo à centralização do comércio
alcoólico. Em 1895, com o intuito de controlar a qualidade e a
quantidade de álcool no mercado, restituiu o monopólio, o que, em um
primeiro momento, rendeu bons frutos tanto para a saúde do povo como
para os cofres públicos.
Mas no século 20 a situação se
complicou para a família real. O país perdera a Guerra Russo-Japonesa,
em 1905, ano em que uma série de rebeliões se espalhou pelo território. E
o estigma da vodca não havia diminuído. Mais uma vez, a bebida
atrapalhou o desempenho. Generais japoneses reconheceram que algumas
vitórias ocorreram graças ao porre dos soldados russos. A posição do
governo sobre o assunto gerava controvérsia. Havia campanhas pela
sobriedade, mas, como a vodca era a principal fonte de renda do governo,
na prática o consumo era estimulado. A pressão aumentou ano a ano. O
país estava em crise, e Nicolau II, desacreditado. Mas, com a Primeira
Guerra Mundial, em 1914, o povo voltou a se unir e apoiar o czar, que
achava que a sobriedade era de suma importância no conflito. Para
mobilizar a população, ele decretou a lei seca, a primeira do gênero na
história. O czar queria livrar a Rússia do vício. E parecia que podia
conseguir. "A população saiu da inércia bêbada para a sobriedade da
noite para o dia", registrou o jornal americano The New York Times na
época.
Os soldados ficaram prontos para a guerra na metade do
tempo previsto. A embriaguez pública era algo raro. A criminalidade
caiu. "Não se pode escrever sobre a mobilização russa ou o
rejuvenescimento do império sem falar da proibição da vodca", disse o
jornal inglês Times em 1915. "De um só golpe, libertou-se da maldição
que paralisou a vida dos camponeses por gerações. Isso em si não é nada
menos que uma revolução."
Entretanto, a proibição teve
consequências nefastas. Os soldados estavam despreparados, havia poucos
suprimentos. "A lei seca significou que o Estado perdeu um terço do
orçamento, resultando em falta de botas e fuzis [no front]", lembra
Patricia Herlihy, historiadora da universidade Brown, nos EUA, e autora
de The Alcoholic Empire (inédito em português). Para tentar acelerar a
economia, o governo imprimiu mais dinheiro, o que causou hiperinflação e
mais descontentamento. "A defasada infraestrutura ferroviária
dificultou o transporte de grãos para o norte. A produção de samogon,
uma vodca ilícita [e muito mais prejudicial à saúde], cresceu. A falta
de pão em São Petersburgo [Petrogrado à época] desencadeou a rebelião de
mulheres, que tiveram apoio de soldados e estudantes para pedir a
abdicação de Nicolau II", diz. Somem-se a isso um frio de -40 ºC no
inverno e anos de descontentamento. "Há relação entre a proibição e a
queda do czarismo", afirma. O cientista político americano Mark Schrad,
autor de The Political Power of Bad Ideas (inédito em português),
concorda. "Os tesouros mais cobiçados do Palácio de Inverno não eram os
quadros na parede, mas as adegas imperiais", diz. A era dos czares
acabou em 1917. "O quebrado governo bolchevique cogitou vender o estoque
de vodca no estrangeiro, mas optou por destruí-lo para evitar
insurreições bêbadas", diz Schrad. A vodca tinha criado um vício
econômico que ajudou a derrubar o regime czarista. Mas o estigma social
perdurava.
Confira toda a matéria em:
http://super.abril.com.br/historia/como-vodca-criou-uniao-sovietica-677121.shtml
Ficou ótimo!!
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