Continuaremos hoje mais uma parte da história da Vodca publicada na revista Super Interessante, espero que gostem.
A vodca é uma bebida de centeio, batata ou trigo que surgiu no final do século 15 com a popularização da tecnologia de destilar, ou seja, separar líquidos por meio da evaporação. A palavra "vodca", que evoca no imaginário algo forte, devastador, tem um significado quase irônico em russo: "aguinha". Mas o termo só se firmou no fim do século 19. Até então, tinha muitos nomes, como vinho de centeio e, atenção para a poesia, lágrima de cereal. Nessa época, ela já havia substituído havia muito tempo no coração e no fígado dos russos o hidromel, a antiga bebida fermentada que levou à derrota frente aos mongóis.
Em 1478, a Rússia, que começava a nascer como estado nacional, tirou o domínio da vodca da Igreja e criou um rentável monopólio sobre o produto. Até as tavernas pertenciam ao czar. No fim da década de 1850, 46% do orçamento do governo vinha da bebida. Esse era o Império Russo, um lugar onde a vodca dava mais dinheiro para o governo do que trens e ferrovias, o símbolo máximo da modernidade no século 19.

A bebida já estava estabelecida no cotidiano dos russos. Pedro, o Grande, instituiu o gole punitivo em seu reinado (1682-1725), passatempo em que os atrasados a uma reunião eram supostamente forçados a entornar uma caneca de vodca. Àquela altura, os russos bebiam em negociações. Bebiam na colheita. Na falta de dinheiro, pagavam em bebida. Subornavam em bebida. A mulher entrou em trabalho de parto? Dê-lhe vodca. O recém-nascido não para de chorar? Vodca goela abaixo que é para acalmar. E o governo estimulava isso. Mesmo com o monopólio desativado desde o século 18, os impostos sobre o produto rendiam muito aos cofres públicos. Um terço das despesas estatais, incluindo todos os gastos militares em tempos de paz, era pago com o dinheiro da vodca.

Mas ela não era querida por todos. Pelo contrário. Além da Igreja, que desde que perdera o direito de produção tornara-se uma ferrenha opositora do álcool, havia grupos cada vez mais barulhentos que se levantavam contra os males causados pela bebida. O movimento da temperança crescia no fim do século 19 a fim de combater a já mundialmente notória embriaguez russa.
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